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A economia que se importa

9 de Setembro de 2015

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Novos estudos comprovam que temos
uma tendência natural pela empatia e compaixão
 
Nos dias de hoje, grande parte dos estudiosos da economia ainda seguem dois pilares fundamentais para entender como funciona o nosso comportamento. O primeiro deles é a teoria do “homo economicus” – a ideia de que nós somos todos essencialmente egoístas, materialistas, que ligamos apenas para os nossos desejos. O outro é a tal teoria da “mão invisível”, criada pelo economista Adam Smith lá em 1776, no seu livro clássico A Riqueza das Nações.
 
Num resumo, Smith diz o seguinte: numa economia de mercado, com ou sem uma entidade como o governo para “controlar” as nossas vidas, a interação dos indivíduos agindo como “homo economicus” resulta em uma certa ordem, como se todos fossemos orientados por uma “mão invisível”.
 
Ou seja, juntando as duas coisas, a gente conclui que o ser humano só se interessa por si mesmo, não precisa de ninguém e as coisas vão funcionar naturalmente assim sem qualquer intervenção.
 
Estes conceitos, no entanto, vêm sem sendo bastante questionados nos últimos anos por uma corrente de pesquisadores das mais diferentes áreas. O recém-lançado livro “Caring Economics: Conversations on Altruism and Compassion, Between Scientists, Economists, and the Dalai Lama”, por exemplo, surgiu a partir de uma conferência realizada em Zurique, na Suíça, pelo Mind and Life Institute. O objetivo era reunir especialistas para discutir a possibilidade de construir uma economia global mais saudável, cujas fundações fossem a compaixão e o altruísmo. Tudo isso formando uma conexão entre as pesquisas científicas e as práticas contemplativas do Budismo.
 
Tanto é que a obra é escrita e editada a quatro mãos pelo monge budista francês Matthieu Ricard e pela Dra.Tania Singer, diretora do departamento de neurociência social do Instituto Max Planck para Ciências Cognitivas e Cerebrais, na Alemanha.
 
Por sinal, Tania esteve este ano no famoso Fórum Mundial Econômico de Davos, na Suíça, para falar sobre o assunto. “Estudos neurocientíficos mostram que temos muitos diferentes sistemas motivacionais”, afirma ela, em sua apresentação, mencionando uma recente publicação da revista científica Nature. “Podemos ser motivados pelo poder, pelo querer, pelo consumo; mas também podemos ser profundamente motivados pelo carinho, pela empatia. Eles podem evoluir para nos permitir criar relacionamentos estáveis, criar confiança. Quando você descobre que estes sistemas motivacionais são comuns para todos os humanos, o mundo começa a parecer diferente. (...) Capacidades como empatia e compaixão são parte da natureza humana”.
 
No Instituto Max Planck, a cientista conduziu um estudo de treinamento mental chamado Projeto ReSource. O programa, que durou cerca de 1 ano e teve a participação de 300 voluntários, foi criado não apenas por cientistas e psicólogos, mas também por especialistas em meditação. O objetivo era ajudar a treinar as pessoas a saírem do modo egoísta homo economicus, cultivando capacidades mentais e sociais como atenção, autocuidado, empatia, tentar enxergar as situações sob as perspectivas alheias e lidar com emoções difíceis como raiva e stress.
 
“Nossos testes mostraram que o treinamento para desenvolver melhor a compaixão levou a um crescimento na vontade de ajudar, de confiar, de se doar de alguma forma ao próximo”, explica ela. “Este treinamento pode mudar este jeito egoísta de ser para algo mais altruísta, mais em defesa do social, que é o que precisamos para estabelecer um formato de cooperação global”.
 
Usando estes estudos como base e formulando o conceito batizado de Caring Economics (A Economia do Carinho), o Instituto Max Planck se uniou com Dennis Shower, presidente do Kiel Institute for the World Economy, para criar uma organização não-governamental com o objetivo de gerar novos modelos econômicos que exploram oportunidades para comportamentos econômicos mais cooperativos e sustentáveis (e sabemos que você já deve ter lido esta palavra algumas vezes aqui neste blog).
 
“Ao invés de ensinar às crianças apenas o conhecimento formal, deveríamos ser capazes de garantir que elas aprendam capacidade mentais que vão servir para que elas tenham vidas melhores – e ajudem a melhorar a vida dos outros”, diz Tania. “Este novo modelo reflete muito mais o que é ser humano”.
 
Seu parceiro de livro, Matthieu Ricard, afirmou durante palestra no TED que os humanos têm um potencial extraordinário para o bem, mas também um imenso poder para fazer o mal. “Qualquer instrumento pode ser usado para construir ou destruir. Tudo depende da nossa motivação. Por isso, é ainda mais importante promover uma motivação altruísta em vez de egoísta”.
 
Ele afirma que um dos maiores desafios atuais é conciliar três escalas de tempo: a economia a curto prazo, com os altos e baixos do mercado de valores e o balanço de fim de ano; a qualidade de vida a médio prazo; e o meio ambiente a longo prazo. A economia, as nossas vidas e a natureza.
 
“Quando ambientalistas falam com economistas, é como um diálogo esquizofrênico, completamente incoerente”. E completa: “A mim, parece que só há um conceito que pode conciliar essas três escalas de tempo: simplesmente, ter mais consideração pelos outros. Ao ter mais consideração pelos outros, teremos uma economia solidária, em que as finanças estejam a serviço da sociedade e não a sociedade a serviço das finanças. Vocês não jogarão no cassino com os recursos que as pessoas confiaram a vocês. Se vocês têm mais consideração pelos outros, se assegurarão de remediar a desigualdade, de trazer algum tipo de bem-estar para a sociedade, para a educação e local de trabalho. Do contrário, se a nação for a mais poderosa e mais rica, mas todos são pobres, qual o sentido?”.
 
E ele deixa a pergunta: até onde estamos dispostos a ir para garantir este futuro? Até onde VOCÊ estaria disposto a ir?
 
Saiba mais:
 
 
 
 

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